As coisas óbvias
Não saltam aos olhos
tão obvias
que parece tolice
dar por elas
hoje
a grande epifania do óbvio
me ocorreu:
Estou vivo
Sim,
vivo
escrevendo este poema
Pensando e sentindo
Tentando acomodar as costas
nesta cadeira comprada em 10 vezes
tentando acomodar o ser
no universo
em expansão
dispersão
solidão
Estou vivo e me move o desejo
súbito
De juntar letras
numa determinada combinação
e dar justificativa
A esse ato gratuito
Eu podia muito bem estar morto
Já que morrer é normal
E a morte acontece
a qualquer idade
(sei que amanhã posso não estar
Mais em carne, osso & sentimentos
Apalpando o mistério
Mas o que importa
é o hoje
Gravado nestes versos
Que tentam
Sem muita fidelidade
resumir
As milhares de sensações
Que me ocorrem)
Entre umidade
livros
computador
Cá estou
Neurônios em ebulição
Gerando incongruências
Engendrando o drama
Usando verbos
Conjugando percepções
Acomodando fonemas
Num ritmo disperso
Com a disposição de espremer poesia
Do instante
Sentindo
A grande comoção de estar vivo
Escrevendo um poema
Para dizer unicamente
Que estou vivo.
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