Ah! se eu chamasse por Deus
Quem viria em seu lugar
Sorver meu sangue e inocência?
Ah, se eu clamasse por anjos
Que legião astuta viria me
fazer rezar
Com a renúncia estéril de um anacoreta?
Desesperado, cavei com mãos
vazias
A minha cova...
Unhas partidas, o sangue
brotando
Misturando-se à terra suja
Já sem digitais, a carne
vívida
Rosto de uma semana insone
Olhei para o fosso aberto
E vi que eu não cabia ali
Mãos covardes demais para
tecer
Minha própria morte
Certo apego em forma confusa
De flagelo & frágil
espera
A beleza também não se
revelaria
Se eu pranteasse por outros ardis
simbólicos
Era preciso superar
O eu dentro da fantasia de
palha
O eu dentro do fantasma de
medo
Superar
Toda a irrisão
E desentranhar
Um olhar fortalecido
Do labirinto de tomos
Cavei um buraco no céu
Para ver o que havia além do
céu
Encontrei astros boiando a
esmo
Em vias de lactescências
Sem vestes celestiais
Encontrei a mim mesmo
No desespero brando
Da solidão.
5 comentários:
Essa acidez e pessimismo na tua escrita me fazem feliz enquanto leitora! Me identifico muito ;-)
Belo poema. Parabéns!
"Eu também sou uma prévia..." Bonito isso...
Ah, fico grato e sensibilizado com as tuas palavras, Vanessa!
Obrigado pelo forte incentivo.
Fico contente que minha lírica acinzentada consiga cativar leitores. E, principalmente uma ótimas leitora & poeta, como tu.
Bjs
Prazerosa leitura, com beleza imagética e sonora. Estou um anacoreta e não sabia!
Oi Michele, obrigado pela leitura e comentário! É muito bom receber este incentivo! Sou muito Grato, mesmo.
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