sábado, 4 de janeiro de 2014

Elegia I (apontamento)

Ah! se eu chamasse por Deus
Quem viria em seu lugar
Sorver meu sangue e inocência?

Ah, se eu clamasse por anjos
Que legião astuta viria me fazer rezar
Com a renúncia estéril de um anacoreta?

Desesperado, cavei com mãos vazias
A minha cova...
Unhas partidas, o sangue brotando
Misturando-se à terra suja

Já sem digitais, a carne vívida
Rosto de uma semana insone
Olhei para o fosso aberto
E vi que eu não cabia ali

Mãos covardes demais para tecer
Minha própria morte
Certo apego em forma confusa
De flagelo & frágil espera

A beleza também não se revelaria
Se eu pranteasse por outros ardis simbólicos
Era preciso superar
O eu dentro da fantasia de palha
O eu dentro do fantasma de medo

Superar
Toda a irrisão
E desentranhar
Um olhar fortalecido
Do labirinto de tomos

Cavei um buraco no céu
Para ver o que havia além do céu
Encontrei astros boiando a esmo
Em vias de lactescências
Sem vestes celestiais

Encontrei a mim mesmo
No desespero brando
Da solidão.

5 comentários:

Vanessa Regina disse...

Essa acidez e pessimismo na tua escrita me fazem feliz enquanto leitora! Me identifico muito ;-)


Belo poema. Parabéns!

"Eu também sou uma prévia..." Bonito isso...

Unknown disse...

Ah, fico grato e sensibilizado com as tuas palavras, Vanessa!
Obrigado pelo forte incentivo.
Fico contente que minha lírica acinzentada consiga cativar leitores. E, principalmente uma ótimas leitora & poeta, como tu.

Bjs

Michele Falcão Fonseca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Michele Falcão Fonseca disse...

Prazerosa leitura, com beleza imagética e sonora. Estou um anacoreta e não sabia!

Unknown disse...

Oi Michele, obrigado pela leitura e comentário! É muito bom receber este incentivo! Sou muito Grato, mesmo.