John Baird, seu filho da puta!
Por que não pintaste um quadro?
Por que não escreveste um livro?
Por que não quiseste ser apenas um pescador?
Vladmir Zworykin, seu filho da puta!
Por que não te alistaste no exército russo?
Por que não te dedicaste à balalaica?
Essa caixa de Pandora
A espalhar moléstia
Com sua luz artificial
Caixa conferindo voz
A pastores e atores
Políticos comediantes
Espetáculos patéticos
Picadeiro
À imprensa sensacionalista
Que vibra com a última tragédia
O homem comum
Nasce
Na frente da TV
Cresce
Na frente da TV
Morre
Na frente da TV
E todo mundo crê
Na normalidade deste fato
Ninguém sente pena do indivíduo
Que viu a vida inteira distorcida
Por um caleidoscópio opiáceo
Hoje há preocupação com drogas:
Alípio da Antioquia
Quer liberar a maconha
Para todo mundo ficar legal na legalidade
Ou quer pôr seu nome em evidência
Como um velho de bolas murchas e ideias avançadas
É prioridade ver Ofônio Tigelino
Todo o domingo numa tela gigante
(LCD ou LSD?)
Vê-lo derreter qual uma vela colorida de natal
E repetir as mesmas frases feitas
De fezes
Esta máquina política
É uma faca atravessando meu crânio
Sinto ganas de ir para o meio do mato
Tirem de perto de mim esta merda!
Estou enlouquecendo
Não consigo me concentrar
Quero ouvir meus pensamentos!
Ninguém vê que um psicotrópico
Pernicioso
Tem lugar privilegiado no seio da família
No centro da sala, como santa efígie
(Na cozinha, no banheiro, na garagem,
No computador, no celular, no Ipod
Na fila do pão, no dentista
No hospital...)
Calpúrnio Pisão
Queima o livro que não leu
Em horário nobre, em sinal digital
E é tido por todos como o profeta
Salvador do vernáculo
George Orwell:
O que você escreveria a respeito?
Todos achavam divertido e riam
Com os homenzinhos dentro da TV
As crianças pensavam que os atores
Atrizes apresentadores estavam presos
Naquele cubo donde saía som e imagem
Na verdade, quem estava de fora
É que se tornava prisioneiro
(Em 1958 a família Alves
Adquiria seu primeiro televisor
E, aos poucos,
Os livros, enciclopédias
Pereciam emudecidos na estante)
Einstein morreu lamentando
O fato de ter sido o principal autor da bomba atômica
Morreu inconformado com sua ciência
John Baird,
Vladmir Zworykin,
Ah, Vocês que criaram
Essa bomba sutil que se instala no cérebro
No pobre cotidiano das pessoas
E mata a qualidade e a força do pensamento
Será que vocês morreram felizes?
4 comentários:
Creio que nem John Baird, nem Vladmir Zworykin, muito menos Einstein achavam que seus inventos seriam utilizados como o são.
Claro, isso é puro achismo meu. Talvez se tivessem desconfiado que surgiriam as aberrações que hoje habitam o tubo ou a tela cristal, realmente tivessem pintado quadros ou até servido ao exército.
Ou talvez tenham sido realmente uns filhos da puta e sabiam o que estavam criando, esse simpático demônio.
Se bem que eu me divirto com alguns programas do History Channel.
Usei os nomes de John Baird e Vladmir Zworykin como mote para meu texto, como um ponto de partida (e acabei usando, depois, como fecho). Acredito que se eles tivessem feito outra coisa de suas vidas, alguém acabaria criando a televisão.
Na verdade eu não sou tão radical quanto o eu lírico deste quase poema. Creio que existe coisa boa na tv, também. Mas, em sua grande maioria (principalmente quando se fala em "tv aberta"), a programação é desprezível e alienante.
Abraço, meu caro - obrigado pela participação.
TV e Internet = Tecnologia
A tecnologia não é BOA ou RUIM.
O uso q se faz dela(tecnologia) é o q determina.
Abençoado o cara q pode usufruir da tv via cabo, ou via gato (meu caso).
Abraço
Pois é Márcio, o assunto é complexo. Como falei para o otário, acredito que a televisão tem seus aspectos positivos.Estes aspectos estão, principalmente, em pacotes de tv a cabo. Acredito, também, que a grande maioria da população não assiste muita coisa que preste. Isto se deve a dois motivos: 1)Falta de grana, que impossibilita o indivíduo ter uma assinatura de tv a cabo; 2)Muitos já estão viciados na programação de merda que certas emissoras transmitem. Ou, seja, muita gente, mesmo tendo grana para a tv a cabo (ou mesmo fazendo uma ligação alternativa), acabam vendo a porcaria do Faustão, ou programas de fofoca de artista. E seguem vendo estes lixos, enquanto o Deus Cronos lentamente os come, consome suas vidas tristes na frente da tv. É um problema político, social, comportamental, etc...
Eu denominei meu texto de Manifesto pueril exatamente por saber que meu texto está muito longe de chegar no âmago da questão.
Obrigado pela participação, Márcio. Abração
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