quinta-feira, 7 de julho de 2011

Poema para o Henry Chinaski que eu não sou

 Eu admiro mesmo
Quem teve coragem de fugir
Quem teve talento para não ser
Mais um funcionário público
Mais um professor
Comerciante
Engenheiro, advogado

Eu admiro mesmo
Quem colocou um violão nas costas
E pegou o primeiro trem para o indefinido
Um navio para o desconhecido
Quem teve a coragem de escrever
Escrever de verdade
E não ficou balbuciando rascunhos

Saber que boa parte da sua vida
Ficará naqueles papéis cheios de burocracia
E mesmo que desempenhe bem a função
Você acabará sempre sendo o responsável
Pelo atraso do país

Em certo momento de nossa existência
Temos a chance de cair fora disso tudo
Uma mochila, um punhado de sonhos
Juventude...

Quando esse momento passa
É se contentar em ficar careca igual uma lâmpada
Num emprego de merda
Ser diplomático
Enquanto gozam na sua cara
(Porque aceitar o sistema é uma forma sutil
e inevitável de prostituição)

Sim, não há mais tempo para On the Road
Para ser cantor folk revolucionário
Ou rockstar
Morrer também não adianta
Resta viver numa resignação heróica
Deixar que o abutre coma o nosso rim
Indefinidamente
Sem esboçarmos o mínimo sinal de dor
com uma certa volúpia, até

Viver, no fim das contas
É um ato masoquista.

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