Filhos de pais medrosos
Que, num sexo furtivo
Vestido de pudor,
Nos trouxeram a este mundo
Insano
Cheio de paranoia.
E aos poucos
Foram jogando todo medo
Por cima de nós
Até sentirmos
que somos
Anjos sem asas
Vultos
Sem forma.
E a hora não tardou:
Temos que enfrentar
A vida
Lutar
Pelo pão seco
E o amor escasso
Há templos de cimento e ferro
Imagens
Versículos
Mas deus é mudo
Um placebo
Pintado com barbas brancas.
Sim, estamos sozinhos
Os pais estão velhos
E ainda possuem
Faces medrosas
Não conseguem dizer nada
A não ser:
Cuidado
A vida é perigosa!
Para eles ainda somos
crianças desamparadas
No fim ainda somos
crianças
Mas
Carregando a mesma cara
As mesmas mágoas
e medos
Dos nossos progenitores
Estamos apavorados
Tão medrosos
Já usamos bebida
Drogas
Nada adiantou
Já tentamos o Budismo
Prozac
Enriquecemos a industria farmacêutica
Estamos apavorados
Tão medrosos
que o vale da morte
parece a única saída.
O único lugar
Seguro.
2 comentários:
É a hereditariedade do existencialismo cagão.
Momentos cinzentos, pais que se prendem a somente repetir pensamentos antigos e um outro mundo sedutor.
Tua poética continua me levando a diante.
Fico feliz que estejas acompanhando este espaço. Mais feliz que estejas gostando dos textos. Como já te disse, é uma honra tê-lo como leitor. Sabe de uma coisa: quando eu escrevo algo, só fico imaginando todo mundo achando uma merda. Talvez me falte confiança. Pouca gente até hoje me levou a sério como poeta. Mas sempre continuei escrevendo, porque preciso, porque, às vezes tenho necessidade de soltar algumas coisas não muito límpidas de dentro da minha alma... Abraços, meu amigo.
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