terça-feira, 26 de abril de 2011

Autorretrato em Sépia



Gosto de caminhar sozinho em certas horas
Sem ter muito para onde ir
Caminhar como se fosse livre deveras
Descobrindo nas mesmas ruas de sempre
A projeção de uma cidade nova.

Tenho meu Fernando Pessoa sempre à mão
Uma xícara de café
Um cigarro
Uma música para cada estado da alma
Tenho uma televisão
Que transformei em aquário
Com os mais simpáticos peixinhos
Tenho um sapato marrom que não canso de usar.

Gosto de assistir o pôr-do-sol pela janela do meu quarto
Quando resolvo não caminhar
Estando triste, de preferência.
A tristeza é uma companheira
Me acostumei tanto
Que não saberia viver sem ela.

Gosto de estar feliz, também
Mas não demais
Felicidade: fim de semana com a família
Almoço de domingo
revisitando a vida
A vida, simplesmente.

Adoro as lembranças
Meus amigos
A thing of beauty is a joy for ever
Os falecidos
Cada vez mais vivos no meu coração
Minha infância cada vez mais viva.

Eu me dando conta que cada momento é eterno
Eu me dando conta que o tempo não passa
O tempo são todos os momentos possíveis
Sempre existindo
A despeito da morte.



                              Leonardo Alves

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