sábado, 25 de junho de 2011

Os Cantadores da Noite

Os cantadores da noite
Possuem olhos pequenos
Onde, lenta, a lua se desfaz.

Cantadores acordando
Casas, flores e fenestras;
Na celebração da vida
Ungidos com sombra e luz.

Desconhecida alegria
Destes pobres cantadores
Que seguem rindo com suas
Fanopéias, Melodias.

No espaço brusco da vida
Vão batucando o carnaval
Cansado do coração.

Rosto turvo, vincado
de cada um dos cantadores;
Córrego por onde escorre
O fero esforço da faina.

A máscara no entanto
Cai como um segundo rosto;
E eles, trapos estridentes,
São o desespero da noite,

Os cantadores da noite.

                Leonardo Alves

2 comentários:

Alexandre Antonio disse...

Como é difícil comentar poesia sem cair na linguagem ensaística ou acadêmica. Tentemos!
Mas posso afirmar que o que gosto na estética do Leonardo é a ebriedade. A temática me traz boas visões, de um tempo e espaço que eu gostaria de estar. Me transporta pra uma zona de eterna boemia.

Unknown disse...

Escrevi este texto em 2006, ou antes. A inspiração, como percebeste, sedimentada em pessoas ébrias. Estávamos no ponto do ônibus, e o pessoal não parava de cantar. Batucavam na porta de ferro de uma loja e cantavam coisas tolas. A noite estava quase acabando. Pensei que aquela alegria era uma espécie de desespero. "Cantadores" me pareceu mais expressivo do que cantores, por causa da terminação "dores". Bom, não vou te contar toda a gênese do troço, senão perde a magia. Resta dizer que este poema estava arquivado. Na verdade era apenas um esboço. Minutos antes de postá-lo, dei a forma definitiva. Tentei impor uma métrica (redondilha maior) na maioria dos versos. E ele continua na oficina. Obrigado por acompanhar este blog. Abraços.