sábado, 23 de julho de 2011

Poema para um dia nublado

Filhos de pais medrosos
Que, num sexo furtivo
Vestido de pudor,
Nos trouxeram a este mundo
Insano
Cheio de paranoia.

E aos poucos
Foram jogando todo medo
Por cima de nós
Até sentirmos
que somos
Anjos sem asas
Vultos
Sem forma.

E a hora não tardou:
Temos que enfrentar
A vida
Lutar
Pelo pão seco
E o amor escasso

Há templos de cimento e ferro
Imagens
Versículos
Mas deus é mudo
Um placebo
Pintado com barbas brancas.

Sim, estamos sozinhos
Os pais estão velhos
E ainda possuem
Faces medrosas
Não conseguem dizer nada
A não ser:
Cuidado
A vida é perigosa!

Para eles ainda somos
crianças desamparadas
No fim ainda somos
crianças
Mas
Carregando a mesma cara
As mesmas mágoas
e medos
Dos nossos progenitores

Estamos apavorados
Tão medrosos
Já usamos bebida
Drogas
Nada adiantou
Já tentamos o Budismo
Prozac
Enriquecemos a industria farmacêutica

Estamos apavorados
Tão medrosos
que o vale da morte
parece a única saída.
O único lugar
Seguro.

2 comentários:

Alexandre Antonio disse...

É a hereditariedade do existencialismo cagão.
Momentos cinzentos, pais que se prendem a somente repetir pensamentos antigos e um outro mundo sedutor.
Tua poética continua me levando a diante.

Unknown disse...

Fico feliz que estejas acompanhando este espaço. Mais feliz que estejas gostando dos textos. Como já te disse, é uma honra tê-lo como leitor. Sabe de uma coisa: quando eu escrevo algo, só fico imaginando todo mundo achando uma merda. Talvez me falte confiança. Pouca gente até hoje me levou a sério como poeta. Mas sempre continuei escrevendo, porque preciso, porque, às vezes tenho necessidade de soltar algumas coisas não muito límpidas de dentro da minha alma... Abraços, meu amigo.