segunda-feira, 30 de maio de 2011

A arte de traduzir

Este post é dedicado a um dos mais profícuos tradutores brasileiros aparecidos nos últimos anos. Sua vastíssima cultura o possibilitou verter para o português uma série de obras das mais diferentes línguas. Este jovem poliglota tem em sua bagagem traduções de livros escritos originalmente em Francês, Inglês, Latim e até mesmo Russo!
Demorou bastante até aparecer um espírito tão culto, do quilate de um Ezra Pound. Para nosso orgulho, um brasileiro. Nesse momento o leitor deve estar curioso para saber o nome de tal erudito. Seu nome é Pietro Nassetti e entre as tantas obras que traduziu, estão: As Flores do Mal (Baudelaire), O Jogador (Dostoievski), Manifesto do Partido Comunista (Marx & Engels), O Retrato de Dorian Gray (Wilde), entre tantas outras.
Tenho o orgulho de dizer que comprei todos os livros acima citados, ao longo de uns dez anos. Todos eles na tradução de Nassetti. Como não tinha (e continuo não tendo) muito dinheiro, e também não tinha interesse em vender um rim para adquirir as edições da Cosac & Naify ou Cultrix, por exemplo, acabei caindo na editora Martin Claret. Sempre considerei um trabalho louvável, o de lançar, a preços populares, obras fundamentais para as mais diversas áreas das ciências humanas. Editora, essa, que revelou o talento de Pietro Nassetti e Alex Marins (outro poliglota sem precedentes na história de nossas letras) como tradutores.
Bom, vou parar com a brincadeira. Não tem a mínima graça. A verdade é que o Pietro Nassetti é um fake. Não traduziu porcaria nenhuma! A falcatrua é a seguinte: pegar uma tradução já consagrada, mas que ainda possui direitos autorais, e efetuar algumas alterações, com a finalidade de maquiar o trabalho. No meio dessa brincadeira, substituem-se palavras ou expressões por sinônimos, cortam-se parágrafos, muda-se o sentido de alguns trechos. O produto final, que cai nas mãos do leitor, é uma colcha de retalhos, um artigo de quinta categoria e, além disso, um produto de plágio. Quem se arrisca a pôr como referência em um trabalho acadêmico obras dessa estirpe?
Eu sempre tive o pé atrás com as traduções da Martin Claret, mas acreditava que os trechos mais “obscuros” ou truncados, se deviam à inexperiência de alguns tradutores. E nunca parei para pensar/questionar a erudição de “tradutores”, como o citado, Pietro Nasseti que, a despeito de não possuir em seu nome traduções primorosas, atacava em quase todas as línguas.
Aconteceu que, ultimamente, eu estava procurando na internet algum artigo que me indicasse uma boa tradução para a Divina Comédia, já que a minha, da Nova Cultural, é bem duvidosa por estar com alguns trechos, indevidamente, cortados. Então encontrei um blog, Não Gosto de Plágio, muito esclarecedor no que diz respeito às traduções “impuras” que rolam por aí. Vale a pena dar uma olhada. Trabalho sério, profundo e altamente esclarecedor. Infelizmente não é só na editora do Pietro Nassetti que se evidenciam tais crimes de plágio. Algumas coleções, como a da Nova Cultural, apresentam esse problema (sim, minha edição da Divina Comédia não vale nada!).
É claro, nem tudo está perdido. Alguns livros da Martin Claret trazem boas traduções. Ou pelo menos originais. É o caso da Eneida, de Virgílio, apresentada na tradução clássica de Odorico Mendes e Fausto, de Goethe, na bela versão para o português de Agostinho D’Ornelas. Nestes casos citados não se fez necessário mascarar os textos, pois os tradutores já são falecidos a mais de 70 anos. Seus trabalhos são de domínio público.
Desejo que os meus dois ou três leitores acessem o blog a que me referi: http://naogostodeplagio.blogspot.com Se possível divulguem. Muita gente boa está colocando dinheiro fora com estas edições. Por falar nisso, eu tenho uma bela coleção, A obra-prima de cada autor para vender. Alguém se interessa?

                                           
                                                         Leonardo Alves

2 comentários:

Vinícius disse...

Pois, é, Léo! Passei esse trabalho com a tradução da Ilíada, pois a tradução do Tio Odorico é "Ilegível", ao melhor estilo parnasiano, e ainda usa o referencial latino para os deuses do Olimpo (Jupiter, Marte, etc... parece os antigos Cybercops). Daí, pesquisei e descobri que a tradução mais "balaqueira" é aquela do Frederico Lourenço, um português, e como a editora é portuguesa, acabei pagando 120 pilas no livro, e ele ainda demorará 10 semanas pra cruzar o oceano (parece que vem numa caravela). Agora me pergunto... será que não existe nenhum brasileiro que consiga traduzir, decentemente, uma obra referencial dessas e possa vender essa tradução a uma editora que, por sua boa vontade, a revenderia a preços populares?
Buenas, quando chegar meu livro eu te empresto!
Ah, eu quero a coleção que estás vendendo, vamos negociar!

Unknown disse...

E aí Vinícius:
Eu sei da tradução do Carlos Alberto Nunes para a Ilíada. Eu li a Odisséia traduzida por ele e me pareceu um bom trabalho. A Ilíada tem para vender pela Ediouro (acho que custa uns 45 reais na Saraiva). Mas acredito que essa tua edição portuguesa deve ser bem melhor.
Tem a versão do Haroldo de Campos para a Ilíada, em dois tomos (creio que bilíngue -o que pra mim não teria utilidade). Mas acho que custa uns 160 paus a brincadeira.
Concordo contigo. Faltam edições a preços acessíveis e honestamente traduzidas.
Quanto aos livros para vender, são tudo dessas traduções "fake" da martin Claret. Como sou teu amigo, não te aconselho a comprar.
Abração, meu querido. Obrigado pela participação.